

No início do século XX, o Vale do Anhangabaú ainda tinha um caráter rural. A construção do Viaduto do Chá, no fim do século XIX, ao mesmo tempo que inaugurava uma frente de expansão da cidade para o oeste, cortava o vale sem tocá-lo: ele continuava caracterizado por chácaras e fundos de quintal das casas das ruas Libero Badaró e Formosa (Fig. 1). Nota-se na foto, no entanto, que o Ribeirão Anhangabaú já se encontrava canalizado, obra realizada em 1893.
O Vale do Anhangabaú na primeira metade do século XX
1900-1950
Figura 1 - Vale do Anhangabaú | 1900 | Ateliê Gaensly & Lindemann
Esta era uma época altamente influenciada pelo urbanismo parisiense. Cidades como o Rio de Janeiro passaram por pesadas reformas de abertura de boulevards, alargamento de ruas coloniais e criação de eixos monumentais. São Paulo também participou fortemente desse fenômeno. O engenheiro Alexandre Albuquerque propõe um projeto que segue esse caminho.
Nesse contexto, é proposto o projeto do Parque Anhangabaú. Tratava-se de um parque inspirado na tradição inglesa, com alamedas curvas e bucólicas, que imediatamente tornou-se o mais forte cartão postal da cidade (Fig 2). A mudança de papel que esse projeto proporcionou foi radical: anteriormente, o vale era ignorado, a cidade lhe dava as costas e o cruzava pelo viaduto friamente; agora ele é o ponto focal da cidade. Na década seguinte, ele se consolida absolutamente como o centro da vida na cidade; diversos marcos foram construídos a partir de então procurando uma perspectiva dele, e acabaram por configurar um complexo arquitetônico-urbanístico riquíssimo e coerente. Dentre eles, o Teatro Municipal, os edifícios do Conde Prates, a Praça do Patriarca, o edifício da Companhia Light, os edifícios Sampaio Moreira, Martinelli e o dos Correios. O Vale do Anhangabaú foi transformado de “fundo da cidade na sua frente monumental” (p138)
Figura 2 - Parque Anhangabaú | 1930

Na gestão Prestes Maia (1938-1945) o Parque foi remodelado para dar lugar a uma das avenidas de irradiação previstas no Plano de Avenidas, chamada Avenida Anhangabaú Inferior. Tal proposta não parece tão agressiva, porém a obra realizada resultou em um espaço bastante diferente do projetado (Fig 3). Foi totalmente perdido o caráter de parque e o ambiente se tornou árido e hostil ao transeunte.

Figura 3 - Parque Anhangabaú transformado em Avenida | 1940